segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Aprovada droga de dose semanal para o diabetes tipo 2

Dr. Carlos Eduardo Barra Couri
Aprovado pelo FDA o mais novo medicamento que pode ser utilizado como opção no tratamento do diabetes tipo 2: o BYDUREON®. Seu lançamento foi destaque na imprensa leiga mundial, sendo matéria do New York Times no dia 27/01.

O BYDUREON® é considerado "primo"do recém-lançado VICTOZA® e do remédio há mais tempo no mercado chamado BYETTA®. A substância contida nele é o exenatide de liberação lenta. Exenatide é uma substância semelhante àquela liberada pelo nosso intestino quando ingerimos o alimento. Esta substância é chamada GLP-1.
Esta classe de remédios que têm ação semelhante ao GLP-1 humano promove redução da glicemia pelo fato de esta substância estimular a secreção de insulina pelo pâncreas e redução do hormônio glucagon (também produzido pelo pâncreas). Para quem não sabe o glucagon eleva a glicose no sangue, ou seja,  é contrário à ação da insulina.
Além disso, o GLP-1 atua no centro da fome localizado no cérebro induzindo a uma redução do apetite. O GLP-1 também atua no estômago fazendo com ele fique mais lento para se esvaziar quando nos alimentamos. Com isso, o paciente em uso deste remédio frequentemente refere que quando come pequenas quantidades de alimentos já sente o estômago mais “cheio”, não tolerando portanto ingerir grandes quantidades de comida.

Por isso, esta classe tem como um dos efeitos paralelos atraentes promover redução de peso. Mas é bom deixar claro: NÃO SÃO REMÉDIOS PARA EMAGRECER, E SIM PARA TRATAR DIABETES TIPO 2. ELES SÓ SÃO  INDICADOS PARA PACIENTES COM DIABETES TIO 2 E NÃO SE RECOMENDA O SEU USO PARA OBESOS NÃO-DIABÉTICOS.

O principal fator diferencial do recém-aprovado BYDUREON é o fato de ser injetado por via subcutânea apenas semanalmente. O primeiro da classe lançado, o BYETTA, tem aplicação subcutânea 2 vezes ao dia; já o VICTOZA é injetado via subcutânea 1 vez por dia.
É bom deixar claro que apesar de ser injetável, NÃO É INSULINA.
O BYDUREON foi aprovado na Europa previamente e acaba de ser aprovado nos Estados Unidos. É possível que tenhamos mais esta opção disponível no mercado brasileiro em alguns meses. Porém, para isto, deveremos aguardar aprovação de nosso departamento regulamentador, a ANVISA.
Enquanto ele não chega ao Brasil, seguem abaixo algumas informações práticas:
  • Posologia: 2mg 1 vez por semana aplicada por via subcutânea; locais sugeridos são no abdome e prega do músculo tríceps.
  • Como aplicar? A caixa contém o exenatide de longa duração em pó, uma seringa com 0,65 ml de diluente e agulhas. Deve-se injetar o diluente no frasco, diluir o medicamento, aspirá-lo imediatamente e injetá-lo.
  • Onde armazenar? Em geladeira com temperatura de 2o a 8o C.
  • Potência na redução da A1C: estudos comparativos diretos com outros remédios há mais tempo no mercado mostram potência similar à metformina e pioglitazona e superior a sitagliptina. Em monoterapia para pacientes virgens de tratamento redução média da A1C foi de 1,5 pontos percentuais, mas sabe-se que o efeito na redução da glicemia depende do grau de descontrole, ou seja, quanto ais descontrolado a glicemia, maior a redução da mesma após o uso do Bydureon®.  O FDA atualmente indica o Bydureon® não como terapêutica de primeira escolha, mas como alternativa quando se falha monoterapia com os medicamentos mais testados como metformina, sulfoniluréias, etc.
  • Populações especiais: este medicamento não foi testado gestantes, em pacientes com insuficiência renal moderada e grave, pacientes com insuficiência hepática e em menosres de 18 anos e por isto não é indicado para estes indivíduos.
  • Efeitos colaterais mais comuns: em monoterapia os efeitos mais comuns são náuseas e vômitos (10-15%), diarréia (10%), nódulo no local de aplicação (7%). Vale à pena ressaltar que em combinação com metformina a incidência de náuseas e diarréia atingiu cerca de 20% dos usuários. Os efeitos adversos são mais comuns no início do tratamento e tendem a se reduzir com o tempo de uso. Em monoterapia a incidência de hipoglicemia é semelhante ao placebo.
  • Precauções: Há relatos de carcinoma medular de tireóide em rartos expostos a este medicamento. Não se sabe o efeito em humanos, mas por precaução não se recomenda seu uso em pacientes com histíria pessoal ou familiar de câncer medular de tireóide. Há relatos raros de pancreatite fatal e não-fatal em pacientes que usaram exenatide de curta duração. Por isso, não se recomenda o uso de Bydureon®  em pacientes que já tiveram história de pancreatite e deve-se ficar atento com sintomas de dor abdominal.
  • Preço: informação não-oficial publicada no New York Times indica que 4 doses semanais custarão cerca de 325 dólares, ou 81 dólares a dose.
Carlos Eduardo Barra CouriDr. Carlos Eduardo Barra Couri
Endocrinologista
Pesquisador da Equipe de Transplante de Células-tronco do Hospital das Clínicas da USP- Ribeirão Preto
Coordenador do Departamento de Novas Terapias e Biotecnologia da Sociedade Brasileira de Diabetes.

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