ASSASSINATO DO CASAL DE EXTRATIVISTAS DE NOVA IPIXUNA.
O Juiz Murilo
Lemos Simão, da Vara do Tribunal de Júri de Marabá, marcou para o próximo dia 03
de abril, o julgamento dos acusados do assassinato do casal de extrativistas
José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva,
crime ocorrido no dia 24 de maio de 2011, no interior do Projeto de Assentamento
Praia Alta Piranheira, município do Nova Ipixuna, sudeste do Pará. O tribunal do
júri ocorrerá no fórum de Justiça de Marabá.
Investigação pela metade.
Foram processados e presos apenas, José Rodrigues Moreira
(mandante do crime) Lindonjonson Silva e Alberto Lopes (executores). No entanto,
conforme escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização da
Justiça, a decisão de mandar matar José Cláudio e Maria, não foi tomada apenas
por José Rodrigues. GILSÃO e GILVAN, proprietários de terras no interior do
Assentamento também teriam participação no crime. José Rodrigues, antes de ser
preso, em conversa com seu irmão de nome DEDÉ, pede que ele pressione os dois a
contratar advogados para fazer sua defesa, caso contrário, os denunciaria. Veja
trecho de um dos diálogos: "vê se tu vai na casa de Gilvazin e
conversa com ele pessoalmente com. Tu fala com ele que ele sabe por que eu to
conversando com ele, que ele providencia advogado e bota ai, por que senão vai
pegar pra ele também e fala pra GILZÃO também", "por que se eu cair (...), se eu
cair eu entrego eles dois", "pois é, tu conversa com eles, que eles aciona
advogado ai em Marabá, pra botar ai, (...) que o culpado é mais ele, ele Gilvan
e Gil, ele se lasca", "ele sabe quem é os culpados nisso tudinho, ele sabe ... e
o culpado é .... o Gilvan sabe também, é ele, Gilvan...”. Mesmo
com esse e muitos outros indícios fortes da participação de GILVAN e GILSÃO, a
polícia não seguiu com as investigações. Os dois não foram indiciados e nem
denunciados.
INCRA favorece mandante do
crime. De acordo com investigações da polícia a causa principal do
assassinato do casal foi a compra ilegal feita por José Rodrigues de uma área de
150 ha dentro do projeto de Assentamento Agro-Extrativista Praia Alta
Piranheira. Em metade da área comprada já residiam 03 famílias, José Rodrigues
tentou expulsá-las e não conseguiu devido o apoio de José Cláudio e Maria a
elas. Em razão disso, Zé Rodrigues decidiu mandar matá-los. Após o
assassinato do casal, as três famílias continuaram sendo ameaçadas, sem proteção
da polícia, decidiram sair dos lotes. Com isso José Rodrigues se apossou destes
colocando pessoas de sua família para assegurar os lotes enquanto ele continua
preso. A situação foi denunciada ao Superintendente do INCRA pela FETAGRI, STR
de Nova Ipixuna, Associação do Assentamento e pela CPT, mas, o INCRA nada fez
para retomar os lotes. Embora o superintendente do INCRA tenha se
negado a retomar os lotes, usando uma falsa justificativa de que só a justiça
pode fazer isso, o mesmo autorizou técnicos do órgão a retomar pequenos lotes de
filhos de assentados que já residem no assentamento há vários anos. Não há
nenhum conhecimento também se a Polícia Federal instaurou inquérito contra José
Rodrigues pelo crime de ocupação ilegal de terra pública, crime previsto em lei,
com pena de 1 a 3 anos de prisão, e também, tenha instaurado inquérito contra os
madeireiros de Nova Ipixuna que extraiam ilegalmente madeira dentro do
assentamento.
Proteção à ameaçada
negada: A professora LAÍSA SAMPAIO, irmã de Maria do Espírito Santo
(assassinada) que continua residindo no interior do Assentamento e dando
continuidade ao trabalho do casal, vem recebendo constantes ameaças e continua
sem nenhuma proteção. A situação já foi denunciada à Secretaria de Segurança
Pública do Estado, à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência e à Casa
Civil. Mesmo assim, sua inclusão no programa de defensores de Direitos Humanos
foi negada e ela continua sem proteção.
Condenação
esperada. Os familiares do casal e os movimentos sociais confiam na
condenação dos acusados pelo corpo de jurados e que o juiz estipule a pena
máxima para os condenados que poderá chegar a 60 anos de prisão. A grande
preocupação é com o cumprimento das penas, pois, as fugas facilitadas na
penitenciária Mariano Antunes de Marabá são constantes. Um dos acusados (Alberto
Silva) fugiu da referia penitenciária em novembro passado, sendo recapturado,
logo depois.
Marabá/Nova Ipixuna, 15 de janeiro de 2013.
FETAGRI Regional
Sudeste.
STTR de Nova Ipixuna.
CPT da diocese de Marabá
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